Veja como falar de problemas na Gestão Pública é a solução para resolvê-los
Este conteúdo faz parte da temática Inovações e Boas Práticas do IBÊ
Vivemos um tempo em que a “superação de limites” se tornou o único modo de vida e, a qualquer sinal de desistência ou fraqueza, entramos em uma autocobrança que muitas vezes pode ser destrutiva.
Começo assim para evidenciar que se tornou quase proibitivo dizer por aí, nos corredores das grandes (e pequenas) organizações e nos escritórios do setor público, a frase: temos um problema!
Não que os problemas não existam pelo simples fato de não mencionarmos seu nome. Eles estão aí e, se me permitem, cada vez mais complexos ou até caóticos. Mas se queremos falar de problema, precisamos encontrar um eufemismo que lhe confira um viés de positividade: temos um desafio!
Desafio ou problema, o fato é que gestores públicos que estejam empenhados em criar políticas que sejam efetivas em melhorar a vida das pessoas precisam compreender que problema é a matéria-prima do seu trabalho. Aliás, matéria-prima abundante e suspeito que inesgotável também.
Mas de que problema falamos?
Problemas são situações naturais da existência. São eles que nos impõem o exercício da criatividade ou o resgate de boas práticas para a sua solução.
No setor público, os problemas que aí se apresentam impactam grande quantidade de pessoas e exigem do gestor uma cuidadosa distribuição de recursos como pessoas, materiais e dinheiro.
Nem todo problema é igual. E para além de ser uma frase de impacto com pouco conteúdo, estamos falando aqui que podemos classificar problemas e isso é fundamental para que façamos a alocação de recursos e de esforços.
Neste texto iremos lidar com a classificação de problemas em três grandes tipos: os problemas simples, os complicados e os complexos. Vejamos.
Problemas Simples
Um problema será simples quando for possível identificar em sua análise determinadas características como:
1 – Não são inéditos: já foram vividos por outras pessoas em outro tempo ou contexto;
2 - Existem soluções prontas ou facilmente adaptáveis para a sua solução: é possível aplicar algo já existente para a sua solução sem grandes adaptações;
3 – Envolvem poucos recursos (pessoas, materiais ou dinheiro) e têm efeitos limitados.
Problemas Complicados
Um problema complicado apresenta novas condições que o tornam algo mais complexo do que um problema simples. Um problema é complicado quando:
1 – Não é inédito, mas possui uma ou outra característica de novidade ou tamanho;
2 – Existem soluções prontas e testadas, mas talvez não em casos concretos como o que esteja vivenciando ou do tamanho que se apresenta;
3 – Envolve mais recursos que os problemas simples;
4 – Pode ser uma composição de 2 ou mais problemas simples associados.
Problemas Complexos
Um problema será complexo à medida que as variáveis e a relação entre elas tornam-se numerosas e as consequências são difíceis de prever:
1 – Há uma grande quantidade e tipos de variáveis envolvidas em sua causa;
2 – Há grande quantidade de atores envolvidos em suas causas e nas possíveis soluções;
3 – É difícil de prever o resultado após a aplicação da solução;
4 – A combinação de causas, atores e proporções tende a ser inédita.
Em geral os problemas complexos se apresentam ao gestor público em aspecto amplo e exigem a elaboração de políticas públicas para a sua resolução.
Como o setor público tem lidado com problemas complexos?
A inovação em governo tem apresentado uma nova abordagem para os problemas públicos – que, em geral, são complexos. Aos poucos, os laboratórios de inovação e o processo começam a fomentar uma cultura menos autocrática e imediatista e mais multidisciplinar, democrática e investida na busca pelo real problema a ser resolvido.
Ainda vemos o modelo de tomada de decisões de forma individual e hierarquizada como predominante, mas a resposta a estas decisões têm sido cada vez menos efetiva e cara.
Fig 1 – Pensamento tradicional de resolução de problemas
Falar de problema precisa deixar de ser – me desculpem – um problema. É quando entendemos que eles fazem parte da gestão e que é para isso que somos gestores públicos e partimos para uma efetiva busca de soluções. E como fazer isso?
Enquadrar um problema demanda muito trabalho de campo, muita pesquisa com usuários e conhecimento técnico para coletar, refinar e extrair insights dessas interações. Só posso dizer que, ao compreender esta dinâmica não há um servidor público que não se apaixone pelos problemas, porque é assim que iremos endereçar uma solução efetiva.
Fig 2 – Pensamento do Design de resolução de problemas
E para deixar claro, compartilho uma peça publicitária premiada e que resume bem o que pode ser uma tomada de decisão baseada em dados e com a participação efetiva de quem vive o problema para que se busque a solução.
Até a próxima.
Autor:
Francisco PereiraTags:
Gestão Pública, Problemas