A importância da Saúde Mental para a Produtividade e a Qualidade do Serviço Público

Jorge Wellington Barreto Rodrigues

29 ago, 2023 ● 8 minutos

*Artigo de opinião

Venha entender como a saúde mental afeta sua produtividade no trabalho

Este conteúdo faz parte do centro de estudos Gestão de Pessoas do IBÊ

Quando se fala em produtividade, a primeira coisa que pensamos é: para produzirmos algo temos que trabalhar incansavelmente. Bem verdade que tudo aquilo que produzimos vem do nosso trabalho, mas ser de modo incansável para ter êxito é uma visão um tanto deturpada sobre o que de fato é ser produtivo.

Primeiro, vamos definir o que é Produtividade. De acordo com o Dicionário Michaelis, o verbete Produtividade tem, entre as suas definições, as seguintes características: “1. Qualidade ou condição do que é produtivo. 2. Potencial para produzir. 3. Quantidade produzida de determinado item.” 

Há estudos para a redução da jornada de trabalho – ainda que em algumas áreas – de 05 para 04 dias semanais. Os entusiastas apresentam os benefícios de tal mudança, tais como: melhora na saúde mental do funcionário, melhora na qualidade de vida, haja vista a possibilidade de organizar melhor a semana deixando os finais de semana totalmente livres para a diversão e o lazer, entre outras. E será que vale para o serviço público?

Bom, antes de irmos a fundo em uma mudança tão drástica e complexa, como essa, precisamos estudar os possíveis riscos, mensurá-los e propor os ajustes necessários para que não se torne – a curto ou a longo prazo – uma dor de cabeça gigantesca, tanto para o servidor quanto para o poder público e principalmente para a população em geral.

A grande dificuldade que tal possibilidade apresenta é a mentalidade brasileira; para nós, a produtividade está intrinsecamente ligada às longas jornadas de trabalho. Na verdade, trabalhar por muitas horas não significa, de fato, produtividade. Por exemplo: determinado agente público entrou na repartição às 7 horas e saiu às 22 horas, tendo 2 horas de pausa para o almoço. Foram 13 horas de jornada naquele dia, que produtivo. Certo? Errado. Dessas 13 horas, 10 horas foram em reuniões, nas quais teve muita conversa fiada e sem efetividade; reuniões nas quais foi conversado até sobre a “cor do cavalo de Napoleão” mas que de trabalho, efetivamente, se resumiria em 40 minutos. Das 03 horas restantes, o tempo foi destinado a atender ao público agendado, beber água, atender ao telefone, ir ao banheiro, entre outras pequenas atividades diárias que nos tomam um precioso tempo. Com isso, foram, na verdade, 13 horas perdidas. Por outro lado, quantas vezes dedicamos 3 horas da nossa jornada diária para análise de processos e ao final desse período parecia que tínhamos trabalhado por longos dias. Não estou afirmando que nesse dia foram apenas 3 horas trabalhadas, mas que provavelmente a jornada de 8 horas foi seguida e muito mais produtiva do que a anterior com 13 horas.

Tal ideia apresentada no parágrafo anterior tem a ver com o workaholic, termo em inglês que designa uma pessoa que trabalha muito. Para uma pessoa workaholic, é incompreensível que alguém trabalhe durante a semana e descanse aos finais de semana; para eles, o funcionário tem que estar disponível ao trabalho todos os minutos da vida; entretanto, tal atitude não se mostra sadia a longo prazo, uma vez que, não raro, um workaholic apresenta a Síndrome de Burnout. Para quem não conhece o termo, essa síndrome também é conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional. Burnout é um termo inglês que faz referência a algo que parou de funcionar por exaustão. Entre os sinais mais evidentes dessa Síndrome estão: cansaço excessivo, insônia, isolamento, fadiga, hipertensão, entre outros. Pelo que podemos perceber, não é difícil encontrarmos algum colega nessa situação ou percebermos que nós passamos pelo mesmo.

Aprendi, quando mais jovem, e sempre repito, que quando o corpo dá sinais de cansaço, paramos, descansamos e retomamos a jornada totalmente recuperados; porém, com a mente não é igual. Quando a mente dá sinais de cansaço, é porque já extrapolou o tolerável há tempos e dependendo do nível do cansaço podem haver danos mais graves. Por isso, é muito importante que busquemos, cada vez mais, priorizar a nossa saúde mental. Para termos êxito nessa jornada, precisamos aprender a dividir nosso tempo basicamente em quatro partes: descanso, trabalho, lazer e convívio social.

  1. No tempo de descanso, precisamos criar mecanismos que realmente nos façam “apagar” totalmente, isto é, dormir e descansar sem mantermos a mente acesa e nos acordando a todo o instante. Tem quem prefira o silêncio, tem quem prefira sons de música ou canto de pássaros; independente de sua opção, é preciso criar uma rotina do sono para que o organismo relaxe e comece a se desligar do mundo e para que o sono seja em quantidade e qualidade necessárias para a nossa total recuperação.
  2. No tempo de lazer, precisamos praticar atividades que nos relaxam e nos valorizam: dançar/cantar, tocar algum instrumento, praticar um esporte, jogar videogame, viajar, entre outros. É nesse momento – seja acompanhado, seja sozinho – que está concentrada a maior parte do tratamento de nossa saúde mental. Por essa razão, negligenciar esse tempo é acionar uma bomba-relógio que vai explodir a qualquer momento.
  3. Já no tempo de convívio social, buscamos a interação com o meio no qual vivemos. Seja em família, entre amigos ou com outras pessoas que temos contato – ainda que rapidamente – quando vamos ao mercado, por exemplo. O convívio social é uma das necessidades mais essenciais para o ser humano e de extrema importância para a manutenção da saúde mental, pois é através dele que manifestamos nosso ponto de vista, ouvimos o ponto de vista dos outros, aprendemos a lidar com a diferença de pensamentos, entre outros. O ser isolado do convívio social vai ficando depressivo e amargurado. 

Bom. Vimos a necessidade do tempo de descanso, do tempo de lazer e do tempo de convívio social; vimos, ainda, a importância deles para a nossa saúde mental. Mas e o tempo do trabalho?

  1. O tempo de trabalho é, talvez, o tempo que precisa ser vivido em uma via de mão dupla. Ao passo que os três primeiros, por si só, têm a função curadora para a saúde mental, o tempo de trabalho necessita da saúde mental para ser bem executado, ao mesmo tempo em que sendo bem utilizado e produtivo, aumenta nossa estima e por conseguinte, também, proporciona nossa saúde mental.

Depois de toda essa reflexão, vem o grande questionamento: é possível fazer com que o serviço público seja efetivamente produtivo reduzindo a sua jornada de trabalho? E um questionamento ainda maior: é possível manter a saúde mental através dessa mudança, principalmente em um ambiente já saturado por demandas e rotinas? Antes de pensarmos em mudar a jornada de trabalho no serviço público, há uma urgente necessidade de mudança de mentalidade em nossa sociedade. Precisamos aprender a medir, de fato, a produtividade do servidor público não pela quantidade de horas trabalhadas mas sim pela qualidade do serviço prestado e de como isso afeta positiva/negativamente os indicadores da Administração Pública.

Antes da Pandemia do Covid-19, era imaginável que o Setor Público utilizasse o Home Office ou o Teletrabalho. Com a imperiosa necessidade de isolamento social, alguns órgãos adotaram essa condição e têm apresentado ter dado certo, haja vista que passada a Pandemia, alguns Órgãos estão migrando para uma ou outra modalidade. Apesar dessa situação, só iremos conseguir mensurar se houve maior produtividade, ou não, daqui a pelo menos 03 anos. Até lá, pensar em redução da carga horária pode ser um tanto temerária considerando que há riscos no Home Office/Teletrabalho, principalmente no que diz respeito a sobrecarga de trabalho, horários variados para a execução do trabalho – o que pode fazer com que o Órgão entre em contato com o servidor a qualquer hora do dia –, ou ainda a diminuição da produtividade, por parte do servidor. Para realizarmos estudos confiáveis sobre a redução da jornada do Setor Público, é preciso entender como este mesmo Setor lidará com as novidades trazidas pelo Home Office/Teletrabalho, como será a produtividade com essas modalidades e, ainda, como estará a nossa saúde mental para que, de fato, seja com a redução da jornada, seja com a migração para outras modalidades, possamos – sem deixarmos de ser produtivos – obter sucesso em alcançar aquilo que mais desejamos quando nos candidatamos em um Concurso Público: a nossa qualidade de vida em todos os sentidos.

Bibliografia:

UOL.COM.BR. Michaelis on-line. Disponível em <https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/produtividade/>. Acesso em 24 de jul. de 2023.

GOV.BR. Síndrome de Burnout. Disponível em <https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sindrome-de-burnout>. Acesso em: 10 de ago. de 2023.


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