Agilidade na Gestão Pública: funciona mesmo?

Leticia Barbosa D’Amaro

01 set, 2022 ● 5 minutos

*Artigo de opinião

Entenda o que são os métodos ágeis e como eles podem ser aplicados na Gestão Pública

Nos últimos tempos, temos ouvido muitos conceitos, práticas e teorias sobre a agilidade como uma forma de acelerar processos. Talvez isso remeta ao modus operandi das empresas de mercado privado em que tudo acontece de maneira mais frenética. Mas e na Gestão Pública, será que isso funciona?

Antes de mais nada, precisamos entender melhor o que é agilidade. Agilidade, segundo o dicionário Aurélio, é a qualidade do que é ágil. Ou presteza de movimentos, ligeireza, mobilidade. Ou ainda agudeza de espírito, perspicácia, sagacidade.

Ser ágil não significa fazer mais rápido. Segundo o Manifesto Ágil – que é um documento redigido pelos 17 maiores desenvolvedores de software que se reuniram em 2001, com o intuito de trocarem ideias sobre suas dores, como as entregas de projeto atrasadas e clientes insatisfeitos – ser ágil é sobre cultura e pessoas, não processos.

Agilidade é saber tratar dos indivíduos e suas interações, contribuir para um ambiente colaborativo, responder a mudanças e, principalmente, entregar valor ao cliente.

Não se pode pensar nos métodos ágeis (que são muitos) com muita paixão ou purismo. É preciso entender o contexto público, identificar os entraves e aculturar a todos para que haja ganhos nesta mudança de visão, de postura.

E sim, é uma mudança de visão, afinal, deixa-se de ter um escopo fechado, com entregas a longo prazo e sem muita interação entre as pessoas do time, para um novo contexto de entregas frequentes e incrementais, promovendo a interlocução e a colaboração entre as pessoas o tempo todo e trazendo o cliente para o contexto.

Em linhas gerais, as grandes diferenças entre os métodos ágeis e os métodos tradicionais são:

Em um contexto altamente regrado, cheio de normas e regulamentações, como é a Gestão Pública, são muitos os desafios ao trabalhar com agilidade. E por onde começar?

Primeiro é preciso identificar o que precisa ser mudado, ou quais são as dores que precisam ser tratadas: atrasos na entrega de projetos, comunicação entre as pessoas, contratos com escopo muito fechado etc. Dependendo do que precisa ser mudado, podem ser aplicadas metodologias ágeis mais adequadas para cada tipo de situação.

É preciso entender que essas abordagens surgiram a partir de várias dificuldades encontradas.

Cada abordagem tem uma peculiaridade e uma missão, mas sem adaptabilidade não funciona. Não podemos achar que é só fazer um curso de uma metodologia e colocar em prática. Estudar a abordagem, identificar pontos favoráveis e desfavoráveis é primordial para o sucesso dessa implementação. E é aí que entra a adaptabilidade: identificar se algum ponto desfavorável pode ser adaptável conforme a cultura da empresa ou órgão.

Vamos observar um exemplo hipotético: quero implementar SCRUM na minha área, que é dentro de um órgão público, muito direcionado por legislações e decretos. SCRUM é uma abordagem que trata da gestão ágil, com entregas parciais, com menos documentação e mais interação, com papéis e eventos bem definidos. Suponhamos que o meu time não tenha condições de fazer reuniões diárias (que é um dos eventos do SCRUM, em que o time precisa se reunir por 15 minutos e cada colaborador irá dizer o que fez ontem, o que pretende fazer hoje e se está dentro do que o time tinha planejado antes), porque eu tenho pessoas que trabalham dia sim e dia não. Qual seria o melhor caminho para esse time: não fazer reunião diária ou não implementar SCRUM? E que tal se esse time fizesse reunião dia sim e dia não? Perceber essa mudança possível é trabalhar a adaptabilidade.

Entendendo a abordagem e fazendo os ajustes necessários sempre é possível seguir com uma metodologia, seja ela ágil ou não.

Mais do que dizer que se utiliza uma abordagem ou metodologia é preciso entender o que se espera. Ter bastante claro o que é essa abordagem e todas as pessoas do time trabalharem com o mesmo intuito e de maneira colaborativa.

Não dá para ter metade do time ágil e metade não ágil. O aculturamento é também extremamente necessário, mesmo que seja para experimentar uma linha de atuação, pois estando todos com o mesmo objetivo, buscando um trabalho uniforme, colaborativo, único, o resultado é alcançado conforme planejado.

Referências bibliográficas:


Autoria: Leticia Barbosa D’Amaro é pós-graduada em tecnologia da informação na manufatura pela FATEC Sorocaba (2004) e com especialização em gestão de pessoas pela FIA (2013). Atua como empregada pública no estado de SP há 10 anos, destes, 8 anos com coordenação de times de desenvolvimento de sistemas e utilização de metodologias ágeis. Atualmente gestora técnica do programa de transformação digital e facilitadora de Design Sprint. Com experiência em suporte, desenvolvimento e implantação de sistemas, condução de treinamento de usuários e clientes, workshops online e palestras.


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