Como a tecnologia pode catalisar a conformidade e a ética nas relações entre público e privado?

Deyvid Alan

24 out, 2023 ● 4 minutos

*Artigo de opinião

A transformação digital é o maior instrumento na efetivação da transparência e do compliance no setor público

As relações entre o setor público e a iniciativa privada são essenciais para o desenvolvimento econômico e social. No entanto, essas relações também estão sujeitas a riscos de corrupção e outros desvios de conduta.

Assim, a conformidade e a ética são fundamentais para mitigar esses riscos e garantir que as relações sejam transparentes, justas e equitativas.

A tecnologia é uma ferramenta poderosa para catalisar a conformidade e a ética nas relações com a iniciativa privada. Ela ajuda a tornar os processos mais transparentes, auditáveis e eficientes, o que dificulta a ocorrência de irregularidades.

Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado em 2022, analisou os dados de 37 países membros da organização.

A conclusão foi de que países com fortes culturas de ética e accountability, e que investem em tecnologia para aumentar a transparência e a auditabilidade dos processos públicos, têm taxas de corrupção mais baixas

O estudo também identificou alguns fatores que contribuem para a construção de uma cultura de ética e accountability, incluindo:

  • A educação é importante para promover a compreensão dos valores éticos e da importância da accountability.
  • Leis e regulamentos que protegem os cidadãos contra a corrupção são essenciais para criar uma cultura de accountability.
  • Instituições fortes, como o judiciário e o Ministério Público, são fundamentais para investigar e punir a corrupção.

Outro estudo, publicado pelo Banco Mundial, concluiu que a tecnologia pode ajudar a reduzir a corrupção em até 20%, com base na análise de dados de 162 países.

O setor público enfrenta constantemente o desafio de lidar com uma imensa quantidade de dados e informações. São pilhas de papéis, protocolos e solicitações da população dispersas em vários departamentos.

O CEO e fundador da Aprova, Marco Antonio Zanatta, afirma que mapear e centralizar essas informações é um passo crucial para garantir a ética e a transparência dos processos. 

“Sem a tecnologia o desafio é imenso: catalogar e classificar todas estas informações, auditar atos praticados; garantir a autenticidade de assinaturas físicas e carimbos e ainda cumprir a LGPD. Além de mobilizar dezenas de pessoas, os processos são morosos e mais passíveis de irregularidades”, explica.

De acordo com Marco, a falta de tecnologias para coletar, armazenar, auditar e assinar documentos digitalmente - além de sobrecarregar a rotina do servidor com tarefas manuais - afetam substancialmente a capacidade de transparência de informações em um órgão público.Outro problema é que a ausência de um atendimento digital - que mantém o registro da tramitação do processo entre órgão público e cidadão - dificulta a identificação e responsabilização de indivíduos envolvidos em fraudes de procedimentos administrativos.

Em Florianópolis, capital de Santa Catarina, a tecnologia tem sido uma grande aliada no combate à corrupção e às construções irregulares.

Com a adoção de serviços digitais, a prefeitura conseguiu retirar os servidores das atividades manuais de análise e direcioná-los para a fiscalização de obras no município.

Isso só foi possível porque as automações fazem a pré-análise das informações cadastradas e garantem que, durante o preenchimento dos campos, a legislação seja cumprida pelo solicitante.

Para o prefeito de Florianópolis, Topázio Neto, combater as irregularidades é essencial para manter o desenvolvimento econômico e sustentável dos municípios, e a tecnologia possibilita isso.

Juntamente ao uso de tecnologias que possibilitam a rastreabilidade de informações, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) desempenha um papel crucial na manutenção da ética e na redução de irregularidades no setor público.

Ao exigir consentimento informado para o uso de dados pessoais, a LGPD coloca o controle nas mãos dos indivíduos, desencorajando práticas corruptas que se aproveitam de informações não regulamentadas. 

Segundo a advogada e presidente do Comitê Estadual de Proteção de Dados do Estado de Goiás, Bruna Piza, a administração deve garantir uma relação de zelo com o cidadão e de responsabilidade com a máquina pública

Bruna explica que para garantir a efetividade da LGPD, o setor público também pode contar com o apoio da iniciativa privada que dispõe de tecnologias para garantir a proteção de dados dos cidadãos, ao mesmo tempo em que cria um forte dissuasivo contra atividades ilegais. 


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