Confira o artigo da Profa. Mestre Rosangela de Souza Bittencourt Lara e Prof. Dr. Adilson Dalben!
Todos os profissionais de educação (professores, gestores e técnicos educacionais) mais uma vez mostraram toda sua tenacidade, resiliência e criatividade para superar os desafios impostos pelo isolamento social.
Agora, diante de tanta incerteza para o retorno às aulas, a eficiência e a eficácia dos processos educacionais, sejam eles pedagógicos ou administrativos, certamente serão imprescindíveis para essa nova fase que alunos e professores vivenciarão. Uma das perguntas que provavelmente está ecoando na cabeça dos profissionais da educação é “Como recuperar os conteúdos?”.
Trata-se de mais uma pergunta que sempre existiu, mas com uma nova nuance. Agora, não se trata mais de recuperar conteúdos não aprendidos, mas sim de conteúdos não ensinados e que precisam ser analisados na perspectiva do ensino e da aprendizagem.
Na perspectiva do ensino, os profissionais da educação estão acostumados a recuperar os conteúdos de que os alunos não se apropriaram durante o ano letivo e verificados através de processos avaliativos desenvolvidos na sala de aula ou até mesmo de avaliações externas.
Tanto em uma, quanto em outra, há diferentes documentos oficiais e até mesmo nos materiais didáticos (que têm sido o principal orientador curricular) os conteúdos estão distribuídos ao longo dos anos de escolarização. Com a pandemia, essa distribuição precisará ser revista uma vez que aquilo que não foi ensinado em 2020, deverá ser feito nos próximos anos.
Então, qual conteúdo de um período letivo deve ser priorizado para que caiba em outro menor? Essa pergunta conduz a outra que, apesar de estar sendo frequentemente feita, leva a decisões pedagógicas não tão acertadas: “Quais das habilidades e competências deverão ser priorizadas em detrimento das outras?”. Não é tão acertada porque o fato de, por exemplo, selecionar duas habilidades cognitivas dentre outras tantas, não implica que as descartadas não precisam ser desenvolvidas. O mesmo ocorre com as competências, não é possível selecionar uma porque todas elas são interligadas. Quando uma é desenvolvida, as demais também em um certo nível também são. O mesmo é válido para as competências socioemocionais.
Sendo assim, não podemos pensar apenas nos conteúdos cognitivos, mas também nas outras dimensões da formação (que se fazem presentes em parte na BNCC), importantes à formação de cidadãos capazes de inserirem-se no mundo e transformá-lo. Este momento é, portanto, mais uma oportunidade de as escolas olharem de forma distintiva para sua organização curricular e planejarem com cuidado este processo.
Na perspectiva da aprendizagem, a afirmação de que, em geral, os alunos não aprenderam ou aprenderam muito pouco neste período de isolamento social pode ser equivocada. De fato, essa afirmação pode retratar a realidade quando são considerados os aprendizados na perspectiva escolarizada. No entanto, as aprendizagens não ocorrem somente na escola. Ao contrário, muita aprendizagem ocorre fora da escola e é desenvolvida de maneira muito significativa. É evidente que estas aprendizagens serão mais potentes quando forem resultado de um processo de reflexão, orientado para o pensamento crítico e ético.
No retorno às aulas presenciais será preciso considerar esta multiplicidade de experiências e aprendizados dos alunos. Uma avaliação diagnóstica bem planejada, capaz de investigar estas experiências e saberes e a criação de estratégias para o diálogo com os alunos e famílias possibilitará conhecer melhor em quais condições o currículo será desenvolvido.
Um planejamento que considera este diagnóstico será importante para ampliar as possibilidades de os alunos estabelecerem conexões, associações com o que já trazem, pesquisando, construindo sentidos ao que aprendem e sentindo-se potentes neste processo.
Com base neste diagnóstico, tomando como referência a realidade sociocultural dos alunos, seus interesses e necessidades, bem como, os direitos de aprendizagem previstos na BNCC, será importante avaliar coletivamente os objetivos previstos para cada ano.
A realização de um estudo planificado da proposta curricular e partilhado entre os professores da escola será fundamental para que sejam assegurados diferentes graus de desafios e aprofundamento do conteúdo ao longo do tempo disponível, bem como uma articulação com os dados do diagnóstico realizado. Não é raro observarmos propostas de trabalho, especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental, com atividades e conteúdo que se repetem entre os anos.
Na medida do possível e de forma acessível aos alunos, as propostas de trabalho e de avaliação devem ser partilhadas com os alunos e famílias, para que saibam quais expectativas/objetivos deverão ser alcançados a partir do processo de ensino e aprendizagem. O conhecimento pelos alunos do que se espera alcançar tem sido potente para que se apropriem mais de seu próprio processo de aprendizagem e dele participem mais intensamente.
Importa também que, ao longo do desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, sejam previstos momentos de avaliação, para uma análise crítica do quanto os estudantes estão avançando, colocando em jogo o princípio da flexibilidade para fazer os ajustes necessários. O desafio não é pequeno, porém se for assumido coletivamente pelos professores, equipe gestora e alunos certamente será mais assertivo.
A resposta à questão inicial certamente não estará fora da escola em programas prescritivos, que desconsideram a realidade e necessidades dos alunos e sim em uma equipe que partilha o seu projeto, estuda, conhece seus alunos e desenvolve o currículo de maneira intencional e com autonomia, produzindo resultados infinitamente melhores.
Autoria: Profa. Mestre Rosangela de Souza Bittencourt Lara e Prof. Dr. Adilson Dalben.
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Educação, Gestão Pública, Matérias