Prefeito Pedro Almeida, de Passo Fundo, fala sobre continuidade na Gestão Pública
O IBEGESP tem uma convicção: a continuidade institucional é essencial para a solidificação da Administração Pública. Inclusive, já falamos sobre isso em um episódio do podcast Radar IBEGESP e em uma entrevista com Edgar Lombardi, da Secretaria de Planejamento e Gestão da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
É óbvio que esse assunto ganha mais destaque em anos como este, em que uma série de municípios passou por mudança de gestão. Mas como trazer essa pauta pro cotidiano? Afinal, pensar em continuidade não é apenas pensar em transição governamental, mas também na consistência das ações de uma mesma gestão.
A gente fala isso porque normalmente vemos essa discussão sendo pautada por conta de uma clássica situação: quando uma gestão muda, a nova equipe – motivada por questões políticas – abandona processos importantes para a população. É fato que isso acontece e que é grave. Mas e quando a própria gestão não garante a continuidade de suas pautas? Como garantir a consistência diante desse cenário?
É sobre isso que Pedro Almeida, prefeito de Passo Fundo (RS), falou com o Radar IBEGESP. Nesta entrevista exclusiva, o prefeito atentou à importância de ações consistentes que garantam a solidificação dos serviços públicos. Ele ainda ressaltou a importância de implantar treinamentos em fases de transição e contou sobre uma novidade de sua gestão para acompanhar o desempenho nos cargos de confiança. Confira abaixo!
PERGUNTA: Como está sendo a transição de gestão em seu município? Qual o sentimento da equipe?
RESPOSTA: Em relação à equipe, a transição do governo está sendo muito tranquila, porque eu já fazia parte da gestão anterior. Fui secretário de cultura no primeiro mandato do Prefeito Luciano e depois fui secretário de gestão, então tenho uma familiaridade com os servidores, com os cargos de chefia, de gerência. Obviamente que nossa equipe foi renovada: nós chamamos novos secretários, procurando estabelecer o equilíbrio entre alguns profissionais que ficaram em algumas pastas e também outros que chegaram. Mas vejo com muita tranquilidade essa transição que nós estamos fazendo. Outra coisa que nós estamos trabalhando nesse início de governo é o ato de ouvir muito os setores, fazendo reuniões com cargos de chefia, com servidores de carreira pra que eles também possam expor o seu olhar. Geralmente chega um prefeito novo com a equipe nova e esquece de ouvir quem tá aqui há mais tempo. Nós temos servidores com 15, 20 anos de trabalho na Prefeitura. Nós procuramos ouvir essas pessoas pra ter sintonia com toda equipe.
PERGUNTA: Aqui no IBEGESP, nós falamos que o gestor de nível tático é a espinha dorsal da Administração Pública, afinal, permanece atuando com as mudanças de mandato e tem a importante missão de equilibrar novas melhorias e projetos anteriores bem-sucedidos. No seu município, o que está sendo feito para garantir esse equilíbrio?
RESPOSTA: Os servidores de nível tático são aqueles que estão no dia a dia; eles conhecem a estrutura da marca pública e já viram muitas ideias acontecerem, podendo nos auxiliar muito no processo de início da gestão. Então nós procuramos fazer um plano de governo bem pé no chão e com esse olhar de quem estava na gestão, mas trazendo ideias novas, secretários novos e novas possibilidades. Esse equilíbrio é fundamental: entre quem já estava no governo e quem chega com novas ideias, oxigenando o processo.
PERGUNTA: Desde sua fundação, o IBEGESP defende a continuidade e institucionalidade do serviço público. Por este motivo, acreditamos que as mudanças de mandato ideais devem preservar iniciativas bem-sucedidas. Pensando no seu cenário, você acha que isso acontecerá?
RESPOSTA: Nós tínhamos, na gestão passada, para dar um exemplo, 19 programas de governo. Estes programas tratam de vários temas: educação, saúde, melhoria dos serviços, etc. A gente tá mantendo a maioria desses programas e aperfeiçoando alguns para dar realmente uma sequência. Porque no serviço público o que a gente observa é que as coisas têm um tempo para acontecer. O processo de um serviço público é diferente do privado, é muitas vezes mais moroso, demora mais tempo pra implementar, pra começar a funcionar. Então nós temos aqui vários programas e projetos que deram muito certo ao longo do período da gestão passada e que agora estão realmente dando os frutos do que foi pensado lá no início. Isso é muito importante, ter essa sequência dos projetos que foram iniciados há 3, 4 anos. Para dar um exemplo, nós temos uma obra acontecendo no Hospital Municipal que consumiu todo o período do prefeito anterior (8 anos). Neste período foi elaborado o projeto arquitetônico e de engenharia, buscou-se recursos junto ao Governo Federal e a obra ainda está em andamento. Vai mais um ano de obra e daremos essa sequência no projeto.
PERGUNTA: Na sua opinião, quais são as maiores possibilidades proporcionadas por uma mudança de gestão?
RESPOSTA: As mudanças são sempre necessárias. Agora, eu acho que mais importante pra um município não é mudar por mudar. É mudar para um projeto que seja melhor que o anterior. Isso deveria estar no centro da discussão sempre. Por que mudar, né? Mudar pra evoluir.
PERGUNTA: Se tem uma coisa que acreditamos é que integrar é preciso. O que sua gestão pretende fazer para acolher os novos ingressantes e garantir o trabalho em equipe?
RESPOSTA: Eu acho que os servidores que chegam, especialmente aqueles que não têm experiência na vida pública, precisam ser orientados e integrados. Nós procuramos, principalmente na área da saúde, fazer treinamentos nesse início de governo. O que são esses treinamentos? Alinhamento de informação! Explicar o que nós tínhamos até então e o que nós pretendemos aplicar em termos de programas, ideias e de ações. Então, a informação é fundamental nesse processo. Por isso nós temos uma rotina com todos os nossos secretários que, semanalmente, comunicam-se por meio de relatórios. O secretário envia na sexta-feira um relatório ao prefeito, em que são tratados os assuntos da semana, comunicando o que foi feito. E na segunda-feira há um despacho no gabinete na primeira hora da manhã em que a gente dá o retorno de todos os relatórios. Essa comunicação é fundamental para que a gente sintonize todo mundo na mesma ação e possa ser mais rápido na resolução de problemas.
Em relação aos cargos de confiança que são sempre um tema polêmico para os municípios, aqui em Passo Fundo nós conseguimos reduzi-los e temos uma cobrança muito grande pra essas indicações. Elas não podem ser políticas, elas têm que ser técnicas. Mas o que isso significa? Que nós observamos muito o currículo de cada indicado e no nosso governo, a partir de agora, nós implementamos um sistema de avaliação dos cargos de comissão. Isso é uma coisa nova! A cada 3 meses há uma grande avaliação com um relatório de cada função, que é avaliado pelo secretário da pasta e encaminhado ao gabinete do prefeito. Essa ação garante uma maior qualidade e assertividade na escolha das funções.
Como você pôde ver na entrevista, não basta pensar em continuidade apenas quando há uma troca de gestão. Precisamos dar sequência, igualmente, a uma série de processos internos. Pensando na importância dessas ações de continuidade, separamos 5 dicas para você garantir um sequenciamento dos planos do seu órgão público. Veja abaixo!
E aí? Acha que sua equipe segue essas dicas? Talvez o primeiro passo para começar a implementá-las seja fazer as seguintes perguntas a si mesmo: há 1 ano, o que esse setor estava desenvolvendo? Quais planos se perderam no caminho? Quais objetivos devo registrar hoje para que não se percam no dia a dia?
Esperamos que estas reflexões te ajudem a implementar a tão necessária cultura da memória e da continuidade na Administração Pública, não deixando de lado o espaço para novas ideias. Mas antes de começar a fazer isso, não deixa de compartilhar com a gente o que achou do artigo e sua opinião sobre esse tema!
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Novidade x continuidade: o que fazer quando a gestão muda?