O Design Thinking como forma de potencializar a criatividade dos introvertidos

Francisco Pereira

26 set, 2023 ● 6 minutos

*Artigo de opinião

Entenda como uma abordagem inclusiva leva a ideias inovadoras

Este conteúdo faz parte do centro de estudos Inovações e Boas Práticas do IBÊ

Você já viu isso antes?

De repente, te convidam para uma reunião em que estão à mesa o que se costuma chamar de “alta gestão”, acompanhada de um corpo técnico com a missão de chegar à solução de um problema .

Em geral, em reuniões deste tipo, as pessoas se colocam em uma grande mesa em que a posição de cada um, em si, já demonstra o poder concedido pela hierarquia e, por que não se dizer, também o poder informal, de proximidade com pessoas chave da estrutura. E quanto a isso, a realidade é universal: pode ser no setor público ou privado.

Não demora muito e alguém diz: vamos fazer um “brainstorming” e, ato contínuo, começa a dar ideias de solução com pouco espaço para a diversidade e a divergência. Em geral, a proposta da dinâmica parte de alguém extrovertido que se sente igualmente à vontade para dar suas ideias de solução “quase” prontas para um problema presumido. 

Pobre “brainstorming”, que é tão lembrado nestas ocasiões como é mal interpretado e realizado. Aos poucos, a simples menção a essa ferramenta causa arrepios nas pessoas, que já sabem que terão pela frente um desfile de ideias e falas vindas “sempre das mesmas pessoas” e que aqueles que teriam muito a dizer, mais uma vez, ficarão quietos.

Mas, afinal, quem são os quietos?

“O Poder dos Quietos”

Susan Cain é uma escritora norte-americana que dedicou boa parte de seu trabalho a compreender de que forma o “ideal de extroversão” tem promovido um olhar que subestima o poder dos introvertidos em serem criativos e exercerem liderança. Em sua obra “O Poder dos Quietos”, Susan esclarece como um mundo que valoriza a eloquência e a autopromoção tem minado a autoconfiança das pessoas introvertidas.

Susan reafirma que cerca de um terço da população se enquadra nesse perfil, sendo indivíduos que preferem ouvir a falar, trabalham melhor de forma independente, são inventivos e criativos, mas geralmente não se sentem à vontade em autopromoção. 

E se voltamos para aquela mesa de reuniões de que falamos no começo, vamos ver com clareza os extrovertidos e eloquentes dominando a fala e se colocando de forma sedutora. 

Soma-se a isso o viés hierárquico, em que poucos se sentirão à vontade para contrariar a ideia de alguém que esteja acima de si na estrutura, especialmente se a relação de liderança for direta.

Será que aqueles que precisam promover a inclusão e a diversidade em seus ambientes de trabalho tem à sua disposição alguma forma de tornar isso uma realidade? 

Afinal, podemos conduzir um processo de geração de ideias para a solução de problemas que contemple a participação efetiva de introvertidos e extrovertidos?

O Design Thinking como abordagem inclusiva

O Design Thinking é uma abordagem de resolução de problemas centrada no ser humano, e pode ser particularmente eficaz para incluir pessoas com diferentes perfis de personalidade. 

Assim, para que se possa realizar um processo criativo em que introvertidos sejam contemplados na mesma medida que os extrovertidos, é preciso considerar estes pontos:

Brainstorming estruturado: Se o que precisamos é favorecer a geração de ideias, não importando quem gerou ou mesmo qual a posição hierárquica de quem criou, então o Design Thinking nos oferece técnicas específicas de brainstorming. 

Comece por um momento de geração de ideias individualmente e em silêncio - "Brainstorming Silencioso" ou a geração de ideias por escrito. Além disso, certifique-se de que não será possível identificar quem gerou a ideia, pois isso irá conferir segurança psicológica a quem possa se sentir inferiorizado no contexto pelas razões que já foram apontadas anteriormente.

A adoção de um momento desses é tão simples quanto relevante para a validade e continuidade do processo criativo, pois é uma abordagem que permite que introvertidos participem ativamente sem a pressão da comunicação verbal em grupo, proporcionando espaço para suas ideias.

Colaboração equilibrada: As equipes convidadas a participar de oficinas norteadas pelo Design Thinking são geralmente multidisciplinares e inclusivas. Isso permite que introvertidos e extrovertidos trabalhem juntos, aproveitando suas respectivas forças. Os introvertidos podem contribuir com análises detalhadas e reflexões profundas, enquanto os extrovertidos podem facilitar a geração de ideias e a comunicação.

Neste processo de colaboração diverso, haverá o momento em que cada perfil dará sua contribuição e o resultado tende a ser melhor do que se cada um deles trabalhasse em suas respectivas “bolhas”. Ambientes criativos, em regra, não são ambientes de consenso, mas de divergência.

Prototipagem e experimentação: O processo de Design Thinking envolve a criação de protótipos para testar ideias. Isso é especialmente benéfico para introvertidos, pois lhes dá a oportunidade de trabalhar de forma independente e aprofundar suas reflexões antes de compartilhar suas propostas.

Além disso, a prototipagem oferece novas formas de manifestação da criatividade que não somente assentadas na eloquência da fala ou na capacidade de mobilizar as atenções. 

Os introvertidos podem ser especialmente contemplados em sua capacidade criativa e sentirem confiança para se manifestar por meio de protótipos e da experimentação.

Potencializando a Liderança de Introvertidos

O Design Thinking não apenas favorece a inclusão de introvertidos no processo de criação de ideias, mas também pode potencializar suas habilidades de liderança. Muitas vezes, a sociedade tende a subestimar os líderes introvertidos devido à sua natureza mais reservada. No entanto, essa abordagem pode:

Valorizar a escuta ativa: Pessoas introvertidas podem ser excelentes observadores ou praticantes da escuta ativa. Colocar-se em uma posição de observador ou de escutar com legítimo interesse para entender o que as pessoas estão fazendo ou dizendo tende a ser uma habilidade presente em pessoas com essas características

Promover a autenticidade: O trabalho mediado pelo pensamento do design coloca as pessoas como protagonistas do processo de entender problemas e buscar soluções. Esta abordagem muda o enfoque de uma liderança individualista e pautada na necessidade de ser o líder o provedor da solução, para um enfoque colaborativo, que confere ao líder o papel de facilitador de grupos multidisciplinares. Neste contexto, liderar tem mais conexão com a habilidade de ouvir e promover a participação de todos do que com a extroversão e a eloquência na fala.

Incentivar a reflexão: A introspecção é uma característica dos introvertidos que pode ser valiosa para a tomada de decisões ponderadas. O Design Thinking incentiva a reflexão e o aprendizado constante.

Assim, podemos entender o Design Thinking como uma abordagem inclusiva que valoriza a diversidade de perfis de personalidade, incluindo introvertidos e extrovertidos. Ele proporciona um ambiente onde as habilidades e contribuições dos introvertidos podem prosperar, levando a ideias inovadoras e equipes mais eficazes


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