O futuro do serviço público: como o ChatGPT e as novas tecnologias estão revolucionando o trabalho do servidor

Deyvid Alan

15 ago, 2023 ● 6 minutos

*Artigo de opinião

Se de um lado as tecnologias podem ser aliadas, do outro demandam novas habilidades dos servidores públicos

Este conteúdo faz parte da temática Inovações e Boas Práticas do IBÊ

A tecnologia tem avançado a passos largos nos últimos anos, revolucionando diversos setores da sociedade, e o funcionalismo público não é exceção. Com novas soluções cada vez mais eficientes e automatizadas, muitas pessoas se perguntam se o trabalho no funcionalismo público será substituído. 

Sistemas de informação, softwares de gestão e aplicativos móveis que provocaram uma intensa transformação digital na Gestão Pública estão agregando funcionalidades e recursos baseados em Inteligência Artificial e automações poderosas para melhorar o atendimento ao cidadão e agilizar demandas internas

Para o fundador da govtech Aprova Digital - startup especialista em soluções para Gestão Pública - Marco Antonio Zanatta, à medida que mais usuários experimentam e compreendem essas tecnologias, aumenta-se a oportunidade para o setor público usar ferramentas para beneficiar seus cidadãos. 

"A tecnologia está mudando a forma como trabalhamos e é emocionante ver aonde isso nos levará", ressalta Marco.

Uma das ferramentas disponíveis hoje é o ChatGPT (Generative Pre-trained Transformer), uma aplicação específica da IA (Inteligência Artificial) que utiliza técnicas de NLP (sigla em inglês para Processamento de Linguagem Natural).

Na prática, o assistente de IA estuda tudo o que alguém escreve e responde a qualquer solicitação por escrito. É essencialmente uma versão mais produtiva do Google e pode fazer de tudo, desde escrever um poema ou carta até codificação básica e algoritmos.

Existem muitas oportunidades para otimizar informações e fluxos de trabalho para um sistema artificialmente inteligente. Alguns exemplos que os líderes municipais podem usar para tornar a rotina de trabalho mais eficiente:

  • Treinar um modelo de geração de linguagem, como ChatGPT, combinado com um chatbot integrado no site da prefeitura, é possível responder automaticamente a perguntas comuns repetitivas;
  • Gerar relatórios e outros documentos escritos. Por exemplo, uma secretaria municipal pode usar o ChatGPT para gerar atas automáticas, com citações, links para tópicos e documentos citados durante a reunião. Isso pode economizar tempo da equipe e garantir que as informações sejam apresentadas de forma consistente e precisa;
  • Automatizar mensagens que podem ser facilmente programadas e escritas com IA, incluindo comunicados de imprensa básicos, e-mails e outros itens promocionais sobre eventos e reuniões, mantendo a população atualizada sobre questões e tópicos atuais quase em tempo real, em vez de depender da equipe para redigir e distribuir informação. Também é possível atualizar automaticamente as contas de mídia social, proporcionando mais transparência e responsabilidade;
  • Criar relatórios com informações precisas e atualizadas aos funcionários para melhorar a eficiência e a eficácia das operações de RH. Ao analisar dados sobre produtividade, atendimento e feedback dos funcionários, a IA pode ajudar os gerentes de RH a identificar padrões e tendências que podem informar a tomada de decisões e melhorar o desempenho;
  • Garantir a conformidade com as leis e regulamentos de compras pelos responsáveis pelo setor de compras do governo. Ao automatizar tarefas como rastrear contratos e garantir a conformidade com as regras, a IA pode ajudar a reduzir o risco de não conformidade e proteger a organização de questões legais.

A IA e outras ferramentas poderosas como automações e internet das coisas (iOT) ajudam a melhorar o atendimento ao cidadão, resolver problemas e engajar os cidadãos. 

Assim, as atividades repetitivas, que hoje dominam a pauta do servidor - como preenchimento de formulários, processamento de documentos e atualização de registros - são realizadas por um sistema capaz de realizar tarefas operacionais de forma mais eficiente e precisa, menos suscetível a erros e corrupção.

O futuro do servidor público ou o servidor público do futuro?

A coordenadora-geral de Serviços de Transformação Governamental da Diretoria de Inovação da Enap, Adriana Phillips Ligiero, não acredita que haverá substituição da mão de obra. Mas considera fundamental que os servidores públicos se adaptem às novas tecnologias e aprendam a utilizá-las de maneira estratégica.

“O conjunto de competências necessárias é muito maior do que apenas saber usar as tecnologias. Porém, estar capacitado sobre as possibilidades de aplicação é indispensável para que ele possa pensar em estratégias para resolver os problemas dos cidadãos”, explica.

Nesse contexto, Adriana considera necessário um grau mínimo de alfabetização digital e entendimento básico sobre padrões e lógica de programação. Além de estarem predispostos a se adaptar às mudanças, desenvolvendo novas habilidades e competências que os tornem relevantes em um mundo cada vez mais digital.

E já que a transformação digital é uma realidade, todos os profissionais, bem como o próprio Estado, precisam acompanhar essa revolução. “Não é uma responsabilidade apenas do servidor, mas um papel crucial dos órgãos governamentais promover essa capacitação”, comenta a diretora.

Segundo ela, é imprescindível rever os processos atuais e pensar em arranjos para ajudar, principalmente, os municípios nessa transformação, que funcionam como o primeiro ponto de conexão com os cidadãos. E proporcionar aos servidores a percepção de que não devem temer a chegada das tecnologias, mas que podem usufruir de todos os benefícios que surgem com elas.

Para além das capacidades técnicas, as competências humanas continuam essenciais. A coordenadora da Enap destaca que, nos próximos anos, o servidor público deverá atuar mais como solucionador de problemas, em atividades político-estratégicas - onde há um componente de cultura, de contato, de relações pessoais - que não podem ser feitas por máquinas.

Apenas 20% são habilidades técnicas para atuar com as ferramentas tecnológicas. Os 80% das competências são dedicadas à liderança de projetos, ao relacionamento com a rede de parceiros e à atuação, com sensibilidade, para entender a realidade das pessoas que buscam e dependem dos serviços públicos.“ As tecnologias não irão acabar com o funcionalismo público. Os trabalhos manuais e repetitivos, a análises de dados e outras atividades podem deixar de ser feitas pelos servidores, mas o contato humano nunca será completamente substituído”, finaliza Adriana.


Autoria: Deyvid Alan da Silva de Oliveira é consultor em modernização para gestão pública, palestrante e criador de conteúdos multicanal sobre transformação digital, tecnologias disruptivas, ecossistema govtech, cidades inteligentes, negócios e startups. Mestre em Educação pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná; especialista em Assessoria de Comunicação e Marketing, Gestão e Docência na Educação a Distância, Docência do Ensino Superior e graduado em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo.


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