É um problema grave que viola os direitos humanos e impacta de forma negativa a qualidade de vida
A pobreza menstrual configura um problema que viola os direitos humanos. No mundo, 1 a cada 10 pessoas que menstruam não tem acesso a itens de higiene menstrual. Já no Brasil, as estatísticas são piores: 25% não possuem acesso. Os fatores mais graves são a falta de recursos, infraestrutura e conhecimento necessários para assegurar a dignidade de menstruantes. A raiz do problema não está apenas na privação dos itens básicos de higiene, como absorvente, papel higiênico, sabonete etc., mas também envolve a carência de água potável, saneamento básico e coleta de lixo nas escolas e nos lares. Assim como o tabu quanto à menstruação que dificulta debater sobre a pobreza menstrual e dificulta apaziguar sentimentos como medo e vergonha que menstruantes sentem ou já sentiram, em especial, durante a menarca – a primeira menstruação por volta da adolescência.
Além disso, o impacto da pobreza menstrual em meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam é desigual, pois o seu gênero, classe social e raça estão diretamente ligados ao seu acesso a oportunidades e à garantia de seus direitos básicos.
Muitas vezes, a vida de quem menstrua é permeada por dificuldades que afetam as suas relações sociais, a autoestima, a qualidade de vida. E a pobreza menstrual prejudica o desenvolvimento pleno do potencial dessas pessoas, com efeitos negativos em seus estudos e trajetória profissional.
Deste modo, observamos que é um assunto complexo. Ele envolve problemas de ordem multidimensional e transdisciplinar. Enfrentar a pobreza menstrual significa desenvolver políticas públicas nas áreas da saúde, educação, infraestrutura, entre outras. Bem como, atuar sobre os seguintes Objetivos de Desenvolvimentos Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), para cumprir a Agenda de 2030:
- Objetivo 1 – Erradicação da pobreza
Em situações de vulnerabilidade social, é comum a falta de acesso a produtos de higiene menstrual como absorventes, pois é um bem material que muitas vezes não cabe no orçamento da família e não é visto como prioritário. De modo que recorrem a panos usados, roupas velhas, papel, jornal, algodão ou até miolo de pão para conter o sangramento menstrual. Esse tipo de solução afeta a saúde emocional e fisiológica da pessoa que menstrua.
- Objetivo 3 – Saúde e bem-estar
Quando não há o cuidado e a higiene durante o período de menstruação, isso pode ocasionar alergias, infecções e até a morte por Síndrome do Choque Tóxico. O bem-estar também é afetado pela pobreza menstrual, pois causa desconforto, estresse e insegurança em menstruantes.
- Objetivo 4 – Educação de qualidade
Para assegurar uma educação inclusiva e equitativa, a escola deve ser um ambiente acolhedor e que supre as necessidades das alunas. Assim, ações como abordar o ciclo menstrual nas aulas e disponibilizar banheiros com papel higiênico, sabonete e absorventes permite tanto prevenir a desinformação sobre o assunto quanto a higiene adequada.
- Objetivo 5 – Igualdade de gênero
Para alcançar a equidade de gênero e o empoderamento das meninas e mulheres, é importante assegurar a autonomia do corpo feminino, bem como o acesso à saúde sexual e reprodutiva.
Assim sendo, a menstruação não deve ser mais um fator segregador na sociedade, mas tem que ser tratada como realmente é, ou seja, parte do ciclo reprodutivo da mulher.
- Objetivo 6 – Água potável e saneamento
O seu acesso é importante para garantir a saúde humana. Com água e saneamento, é possível se higienizar de maneira apropriada, assim como promover o bem-estar das pessoas que menstruam.
- Objetivo 8 – Trabalho decente e crescimento econômico
A pobreza menstrual pode afetar o desenvolvimento da pessoa, pois a afasta da escola, da convivência social, de atividades físicas, prejudicando seu potencial e minando competências que seriam importantes para a vida profissional.
- Objetivo 12 – Consumo e produção responsável
O acesso a serviços básicos é necessário para combater a pobreza menstrual e assegurar a dignidade de quem menstrua. Itens de higiene, banheiros e locais para descarte são essenciais para a troca do absorvente. É preciso ainda considerar que os produtos reutilizáveis como coletores, calcinhas menstruais e absorventes com tecido reutilizável, mesmo que melhores para a proteção do meio ambiente, não englobam quem não tem acesso à água limpa para a higienização dos materiais.
Assim, a falta de informação, de acesso aos itens de higiene menstrual, à água encanada e de renda para a compra dos produtos são problemas preocupantes que configuram a pobreza menstrual. Eles necessitam de atenção máxima para desenvolvermos políticas públicas que resguardem a dignidade de quem menstrua e assegurem os direitos humanos. Um projeto que trata do tema é o “Alices no País das Feminices” feito pela UNIFAE. Para conhecer, clique aqui.
Autor:
Amanda Tiemi NakazatoTags:
Gestão Pública, Matérias, Políticas Públicas, Saúde