Os desafios da liderança pública em tempos de covid-19

13 set, 2021 ● 7 minutos

Confira a entrevista de Luana Tavares, diretora-executiva do CLP, e Natália Folco, docente do IBEGESP

2020 está evidenciado a cada mês uma série de problemáticas e necessidades brasileiras. Disso não se tem dúvida. E uma das maiores verdades que vieram à tona durante a crise causada pelo coronavírus é o fato de que uma gestão racional requer lideranças preparadas e assertivas.

Esta premissa impacta diretamente os gestores públicos, afinal a Administração Pública do país enfrenta o maior desafio de sua história. Mas será que você, gestor responsável por liderar equipes e processos, está se sentindo preparado para adaptar seu perfil de liderança às necessidades do atual contexto? Você consegue mensurar o que precisa desenvolver para lidar com tantos desafios?

Foi justamente para trazer luz a estas e tantas outras questões que afetam a liderança pública que entrevistamos duas profissionais com destacada atuação com gestores públicos. São elas: 

Ao entrevistarmos Luana Tavares e Natália Folco, uma questão sintomática foi abordada: apesar do contexto de crise, nota-se, em alguns ambientes, um aumento na busca por ações para o desenvolvimento de líderes. Quando questionada sobre esta situação, Natália Folco atentou ao fato de que, infelizmente, este aumento não é uniforme e que uma parte considerável das organizações públicas pode sofrer uma piora na qualidade de desenvolvimento de líderes e liderados. Segundo a profissional, isto se deve tanto ao impacto sofrido pela infraestrutura da Gestão Pública durante a pandemia, quanto à falta de preparo tecnológico.

Para Natália, as organizações que buscaram ações do tipo já possuíam uma cultura de desenvolvimento humano mais estabelecida e solidificada em suas ações estratégicas. Para a docente do IBEGESP, estas instituições

“conseguiram concentrar seus esforços em auxiliar os líderes, a passarem por esse período de forma mais amena, e fortalecendo suas capacidades de gestão das emoções e direcionamento de seus liderados, por meio de programas de desenvolvimento de liderança e saúde e bem estar. Este é o cenário ideal, em que a empresa diminuirá os impactos negativos da pandemia no clima ou mesmo elevará a sensação de equipe e coesão.”

Também salientando a importância dessas medidas de desenvolvimento no atual contexto, Luana Tavares atentou ao fato de que a pandemia exige a tomada de medidas urgentes para a superação da crise. Segundo a diretora-executiva do CLP “nos momentos graves, se comprova ainda mais o valor da informação responsável e precisa.” Diante de tantos desafios, Luana citou algumas contribuições oferecidas pelo CLP a essas lideranças:

“No caso do CLP, preparamos uma agenda com pautas emergenciais, de médio e longo prazos a fim de auxiliar os líderes públicos e os cidadãos a enfrentarem o colapso nos âmbitos social, econômico e sanitário. Atuamos em duas frentes: como os líderes públicos podem combater a pandemia nos seus municípios; e quais medidas devem ser tomadas pelo governo e pelo Congresso para vencer o coronavírus e ter um plano de retomada da economia brasileira.”

Nossa redação também perguntou às duas profissionais o que as lideranças públicas precisam para lidar com a crise atual sem deixar de lado o planejamento a médio e longo prazo. Natália Folco pontuou que “um ponto importantíssimo para lidar com a crise atual é estimular a autonomia dos colaboradores e o senso de prioridade (individual e coletivo).”

Para além disso, a profissional destacou a importância de as lideranças alinharem expectativas da qualidade da entrega da equipe e da criação de um ambiente de confiança para troca de informações.

No que se refere à empatia como competência fundamental no atual momento, Natália Folco fez o seguinte apontamento:

“Um(a) colaborador(a) quando se sente ouvido(a) e compreendido(a), desenvolve melhor suas funções e o faz com satisfação. Um(a) colaborador(a) insatisfeito(a) tem aproximadamente 17 horas improdutivas (segundo pesquisa da Microsoft com 38 mil pessoas), portanto não podemos olhar somente para o planejamento, mas sim pensar em como satisfazer mais as pessoas da equipe. A única e melhor forma de fazer isso é conhecendo as suas necessidades, pois cada indivíduo possui um perfil, necessidades e formas de estímulos diferentes. Neste momento, análises de perfil comportamental são excelentes ferramentas de apoio às lideranças.”

Segundo Luana Tavares, esta questão apontada por Natália - acerca da produtividade das equipes – deve ser levada em consideração a partir de uma gestão baseada em dados. É válido ressaltar, inclusive, que durante toda a entrevista concedida, a diretora-executiva do CLP ressaltava a importância de ações baseadas em evidências.

Luana Tavares também falou sobre como o trabalho dos gestores públicos, tão essencial no atual contexto, está sendo fortemente afetado pela falta de preparo tecnológico e cultural que cerca o trabalho remoto. A profissional apontou o fato de que este obstáculo tem gerado entraves para o acesso de documentos e outras ferramentas de trabalho. Fator que contribui para uma complexidade ainda maior do atual cenário:

“Esse é o cenário de crise mais complexo que já vivemos. Todo grande desafio vem acompanhado de líderes vencedores, que escreverão a história, e outros que serão exemplos negativos para a posteridade. Assumir a responsabilidade de tomar decisões embasadas em dados é o primeiro passo. Toda crise acaba gerando uma carga emocional grande e uma cobrança por decisões rápidas. As respostas sempre vão agradar a alguns grupos e desagradar a outros, ou seja, é importante agir de forma estratégica, adaptativa e em tempo adequado, de modo a preservar o bem-estar da população.”

Diante de tamanho desafio, Luana afirmou que se exige do gestor público atual a capacidade de dirigir sua administração com firmeza, racionalidade e preparo. Para ela, os períodos de pandemia carregam consigo lições importantes de serem aprendidas. Se aprofundando no assunto, Luana pontuou que “os bons administradores públicos devem sempre exercitar suas imaginações para prever cenários e traçar as melhores estratégias, com muito planejamento” e que “quem está em funções decisórias de gestão pública precisa se antecipar, na medida do possível, às eventuais crises que vão surgir.” Sobre estas necessidades futuras, a profissional afirmou que:

Vê-se, deste modo, que aparece como essencial para as lideranças públicas aliarem tanto um olhar para o contexto mais amplo quanto para si próprias. Premissa que o IBEGESP defende constantemente, seja em sua missão de capacitar gestores públicos ou de contribuir com o desenvolvimento pessoal e profissional dos líderes. Uma das soluções direcionadas justamente para isso é a Orientação Dirigida, a qual é também viabilizada pela nossa entrevistada, Natália Folco.

Quando perguntada sobre como está lidando com os gestores públicos em medidas de desenvolvimento deste tipo, a docente do IBEGESP afirmou o que o atual cenário requer um olhar mais atento à saúde emocional dos líderes. Para além disso, Natália pontuou que está adotando uma abordagem que envolve os seguintes pilares:

  • Auxílio nas estratégias e prioridades para adaptações do cenário de cada líder;
  • Desenvolvimento da comunicação e proximidade da equipe;
  • Alinhamento das ações de forma estruturada.

Você, gestor que está lendo essa matéria, avalia sua própria liderança de que maneira em cada um destes pilares? Como ficou claro neste artigo, seja na fala de nossas entrevistadas