PROJETO BATALHÃO CONSCIENTE

13 set, 2021 ● 9 minutos

Uso e consumo consciente de energia elétrica

Entrevista com o capitão Telmo Tassinari Neto da Polícia Militar de Minas Gerais/PMMG

Ao assumir uma nova função no 31º Batalhão da Polícia Militar em Conselheiro Lafaiete, MG, o capitão Telmo ficou responsável pela Seção Administrativa (SADM), que cuida de duas áreas muito importantes na unidade: Gestão de Pessoas e Gestão Logística. Sendo uma nova atividade em sua carreira, essencialmente administrativa, procurou formatar um Plano de Trabalho Anual que pudesse orientar o Batalhão durante o ano de 2018 e, ao mesmo tempo, oferecer mecanismos de coordenação e controle dentro dessas duas áreas.

Dessa forma, como um primeiro norteador para seu plano, o capitão buscou sustentação prática e normativa no “Plano Estratégico da Polícia Militar 2016/2019”, que possui em seu conteúdo direcionamentos para toda a estrutura organizacional da instituição, e assim pode entender de que maneira ele poderia contribuir para o sucesso tanto do Plano Estratégico da instituição quanto do Estado de Minas Gerais, que vinha vivenciando momentos não ideais. Assim surgiu o projeto “Batalhão Consciente”. Vamos conhecer mais sobre os desafios e soluções encontradas pelo servidor.

Como o projeto foi idealizado

Em virtude da extensa área física de minha nova unidade, bem como, a idade de sua instalação oficial (20 anos) dediquei-me alguns dias a andar, literalmente, pelo batalhão e visitar seções/salas, auditórios e outros locais, e foi destas visitas que pude perceber o quanto a rede elétrica se apresentava antiga e muito distante das tecnologias atuais, em se tratando de energia elétrica. 

Mediante alguns questionamentos básicos sobre elétrica e eletricidade a um de meus colaboradores (Policial Militar subordinado a uma de minhas seções), identificamos ações simples que poderiam trazer resultados também simples, porém estimulantes, qual seja, redução do consumo de energia elétrica. Desta constatação surgiu a ideia do projeto. 

Um ponto importante para que a construção do projeto pudesse se apresentar como uma realidade palpável técnica e doutrinariamente foi o curso que realizei junto ao IBEGESP em julho de 2018 (Gestão e Redução de Gastos Públicos - EAD), que pôde me mostrar a importância dada ao assunto e o quanto diversos outros setores (públicos e privados) estão imbuídos de tal propósito. Foi um pilar doutrinário para que a ideia não fosse ventilada como uma simples ação de um novo chefe de seção.

Como pensou a aplicação do projeto?

Inicialmente minha equipe (Integrantes do almoxarifado – Sgt. J. Morais, Sgt. Jurandir e Cabo Gustavo) realizaram um breve levantamento acerca das condições da rede elétrica, atentando a questões básicas como: quantas lâmpadas ainda são incandescentes? Quantos interruptores acionam mais de uma lâmpada ao mesmo tempo? Quais áreas/setores/salas possuem número de lâmpadas acima do necessário mantendo-se a qualidade da iluminação? 

Em seguida, outros integrantes do almoxarifado (Sgt. Edina e Funcionárias Civis Camila e Graziele) realizaram levantamentos mais qualitativos tais como consumo médio por hora de cada computador dentro do batalhão, quantos computadores existiam no batalhão, histórico de consumo médio mensal de KW/H no batalhão em 2018 (1º semestre). 

De posse destas informações iniciais montamos a base do projeto que possuía os seguintes objetivos norteadores: Redução de consumo KW/H Mês e a implantação de uma Cultura de Consumo Consciente e Eficiente. 

Para que esses objetivos fossem alcançados, idealizamos as seguintes ações: alterações estruturais básicas em alguns pontos/ setores do batalhão - troca de lâmpadas incandescentes por lâmpadas de LED e a troca de interruptores conjuntos por interruptores individuais – e preparamos em conjunto com a Assessoria de Comunicação Organizacional do batalhão (ACO/31º BPM) uma campanha interna contendo 06 (seis) dicas para Uso Consciente de Energia Elétrica no batalhão. Tais dicas eram enviadas a todos os integrantes da unidade sempre as segundas feiras em nossa intranet (intranetpm) assim como nos grupos de Wzap interno. Estas dicas foram pensadas considerando as características de uso/consumo de nossa unidade.

Quais foram os obstáculos encontrados para a implantação

Não entendo que tivemos obstáculo à implementação do projeto, uma vez que o trabalho junto a um grupo de militares (Policiais Militares) facilita bastante o cumprimento de muitas ideias em virtude da formação e do caráter militar que, fundido ao espírito de servidor público, favorecem ao cumprimento de ordens, leis, estratégias e desenvolvimento de ações em favor da sociedade.

A dificuldade encontrada se deu apenas na mudança de hábitos sutis identificados no dia a dia de muitas pessoas, tal como o simples “esquecer de apagar a luz” a sair da sala ou o desligar o computador antes do cafezinho ou do almoço. Porém, na medida em que os dias foram passando e as dicas continuaram a ser encaminhadas foi possível constatar que as mudanças individuais começaram a se fazer mais latentes.

Quanto tempo levou para que o projeto fosse implantado e “concluído”? 

Decorrente do baixo efetivo mantido em atividades internas (atividade meio) nos batalhões (para que a maior parte de todo o efetivo da PMMG esteja nas ruas em atividade fim) e dos recursos para compra/aquisição de novos equipamentos e materiais, as ações iniciais ou preparatórias, como gosto de chamar, foram feitas paulatinamente no 

decorrer de cerca de 4 meses, e mesmo assim apenas em parte de toda a nossa estrutura física. Isso fez com que a parte prática e avaliativa do projeto ficasse definida para os meses de setembro, outubro e novembro de 2018, período no qual teríamos ao menos um trimestre para avaliar os resultados.

O que você considera fundamental para a implantação de ações como essa? 

Primeiro, é fundamental que o Comando do Batalhão entenda a necessidade e a viabilidade do projeto e o apoie. No 31º BPM, ao apresentar a ideia ao meu Comandante, Tenente Coronel PM Fabiano Rocha dos Santos, e ao meu sub-comandante, Major PM Gledson Bruno Píramo da Silva, tive total apoio de ambos e a irrestrita liberdade para materializar as ações que fossem necessárias. 

Segundo, uma boa equipe para estruturar o projeto em suas fases iniciais (levantamentos de dados e definição da estratégia) e coordenar as demais fases é a sustentação da execução do projeto. Essa equipe (Integrantes da ACO/31º BPM e do Almoxarifado/31º BPM) foi muito importante durante os meses de avaliação prática do projeto.

 E como o batalhão contribuiu para o processo?

Entendendo a iniciativa e seus objetivos, aceitando o projeto e suas ações e buscando diariamente sedimentar uma nova cultura no trabalho, por meio de simples práticas individuais e corriqueiras como as que as seis dicas enfatizavam.

 Os resultados desse trabalho foram positivos? 

Inicialmente é possível afirmar que conseguimos reduzir o consumo de KW/H comparando dados do 1º semestre de 2018 com o do 2º semestre do mesmo ano. Esta redução ocorre justamente quando as mudanças estruturais foram iniciadas.

Ainda conforme os mesmos dados, é possível verificar que o valor médio por KW/h sofreu variações (alta) no 2º semestre, o que elevaria mais ainda nosso valor final de contas mensais se não fossemos capazes de reduzir nosso consumo. Ou seja, atingimos, sim, um dos nossos principais objetivos de maneira muito clara! 

O mais importante desta constatação está no fato de que ainda possuímos muitos setores/locais com lâmpadas antigas (incandescentes) e mal distribuídas ao se considerar a utilização que é feita de cada local, a periodicidade do uso e o perfil dos eventos que nestes locais ocorrem, além de outras situações também passíveis de alterações, tais como a redução do total de lâmpadas em ambientes internos e a mudança de interruptores conjuntos para os individuais, sem falar na troca de grande parte da fiação/rede antiga. 

Se mantivermos o foco nas mudanças necessárias poderemos alcançar novos resultados positivos em 2019.

Você evoluiria essa ação de alguma forma? Acrescentaria algo ao projeto?

A evolução do projeto encontra sustentação na própria continuidade das ações iniciais, campo ainda aberto a muitas mudanças decorrentes da estrutura antiga de nossa rede elétrica. Esse me parece o caminho a ser seguido no início de 2019 e que se apresenta promissor em seus possíveis resultados. 

Entendo que, em um primeiro momento, não seja necessário acrescentar de imedia

to qualquer nova ação ao projeto se considerarmos toda a estrutura que ainda pode ser melhorada.

Contudo, em uma terceira fase, já avançada e também já consolidadas as demais ações iniciais e estruturantes, entendo que a implementação de sistemas de captação de energia solar seria uma ótima opção para locais específicos de nosso batalhão, principalmente na medida em que novos e mais modernos equipamentos e espaços forem sendo inseridos em nossa estrutura física.

Por fim, o pensamento consciente e responsável quanto ao uso/consumo de energia elétrica deve ser sempre uma constante em nossa rotina de treinamentos e de serviço o que demandará ainda muitas outras intervenções junto aos nossos colaboradores internos no ano de 2019.

Já é possível avaliar os indicadores do projeto

Os dados estatísticos do ano de 2018 revelam a redução do consumo em KW a partir do início do 2º semestre e a sua estabilização muito positiva para nossos objetivos propostos entre os meses de setembro a novembro (período de avaliação prática).

Quanto à mudança cultural, também prevista no projeto, acreditamos que o caminho está aberto e sendo trilhado por cada integrante do batalhão, cada um ao seu tempo. É possível afirmar - pelo menos eu acredito muito nisso - que as possibilidades são enormes quanto à instalação de uma verdadeira ideia sobre o uso/consumo consciente e responsável de energia elétrica em nossa unidade de Polícia Militar e com isso construir uma nova cultura que identifique a sustentabilidade como um normativo social e profissional indissociável de todo agente público, independente do setor/área/instituição/órgão que represente.

A missão não é fácil, porém, possível!