A necessidade do profissionalismo no serviço público

Jorge Wellington Barreto Rodrigues

01 ago, 2023 ● 5 minutos

*Artigo de opinião

Saiba as qualidades objetivas e subjetivas de alguém com profissionalismo

Este conteúdo faz parte dos centros de estudos Educação e Gestão de Pessoas do IBÊ

Muitas pessoas têm a ideia de que qualquer um consegue ser servidor público. Para tanto, basta prestar um concurso público, ser aprovado e finalmente convocado e empossado. Até certo ponto, essa ideia está correta, mas ser um servidor público dotado de profissionalismo não é tão simples assim. Será que é preciosismo demais pensar assim? Vejamos.

Desde jovem, somos induzidos a buscar qualificação profissional com o intuito de conseguirmos uma boa oportunidade no mercado de trabalho, preferencialmente em uma grande empresa que nos dará todo o suporte para crescimento além do orgulho de trabalhar ali. Visando a execução desta meta, procuramos realizar todos os cursos possíveis para que possamos acrescentar em nosso currículo e, desta forma, conseguir ser chamado para a entrevista.

No dia marcado para a entrevista, buscamos nos vestir do melhor modo possível e, de preferência, alinhado com a política da empresa para que possamos nos mostrar como a escolha perfeita para o cargo. Para isso, pesquisamos todas as informações da empresa, a fim de estarmos familiarizados com a sua estrutura e organização administrativa. E assim, durante a entrevista, sabermos falar o que o recrutador deseja ouvir.

E essa nossa “paquera”, com a empresa, não acaba por aí. Após a admissão, buscamos, cada vez mais, demonstrar que somos bons na função para a qual fomos contratados; demonstramos aptidões técnicas, proatividade e trabalho em equipe, olhamos para as referências na área em que atuamos e estabelecemos a meta de um dia sermos, nós, as referências.

Toda essa condição de busca de qualificação técnico-profissional, aprimoramento do nosso conhecimento na área, o ser proativo e o buscar ter um bom convívio com nossos colegas de trabalho nos tornam um profissional recomendado. Ou seja, um funcionário dotado de profissionalismo.

Bem verdade que o verbete profissionalismo não se resume às qualidades citadas no parágrafo anterior, mas são os sinais mais claros e evidentes por serem de natureza objetiva. Outras qualidades são mais perceptíveis no âmbito subjetivo, como, por exemplo, atuar sempre com moral e ética.

Agora, voltemos os olhos ao serviço público. Para esse exercício, convido o leitor a se deter, somente, nas três esferas de poder, – federal, estadual e municipal – e não nas três esferas políticas. Quantas vezes nos percebemos como funcionários da – talvez – maior empresa da cidade (ou do estado ou, ainda do país)? Você, servidor municipal: há quantos funcionários na maior empresa privada da sua cidade? Quem tem mais: a sua administração pública municipal ou essa empresa?

Agora vem a parte mais curiosa. Se trabalhamos na maior empresa da nossa cidade – estado, país – porque não buscamos ser tão profissionais como faríamos na iniciativa privada? A resposta para esse questionamento fica evidente em duas premissas: mentalidade acerca do serviço público e nossa subvaloração enquanto servidor público.

Quanto à mentalidade, voltamos ao primeiro parágrafo deste artigo. De modo geral, tem-se a ideia de que o serviço público pode ser executado por qualquer pessoa, independente de conhecimentos aprofundados sobre Administração Pública ou ao menos razoável dos cinco princípios da administração.

Entretanto, para uma boa execução do serviço público, nós servidores, devemos ter noção exata da grande responsabilidade que é atender ao público de modo geral, gerando – primeiramente em nós e depois na população – a consciência de que a correta aplicação do dinheiro público está muito além do meramente gastar desnecessariamente.

Quando o serviço público não funciona – seja por falha do servidor, seja por falta de informação completa da população – e tem que ser refeito, há, ali, a aplicação desnecessária de verba pública que por consequência deixará de ser aplicada em outra área. E se refletirmos bem, tal cenário não é utópico.

Agora no campo da subvaloração, precisamos, o quanto antes, mudar nossas atitudes no que diz respeito ao profissionalismo. Atuar na Administração Pública nos obriga a pensarmos no profissionalismo não como algo que vai nos tornar robotizados ou burocráticos – embora burocracia não significa morosidade, conforme expus anteriormente e acessível aqui – mas como uma condição necessária para a evolução da qualidade da prestação do serviço público.

É com o profissionalismo que seremos proativos e proficientes em nossa área de atuação, faremos o papel de ponte entre o poder público e a população e alcançaremos a perfeita execução das políticas públicas, que é o principal papel a ser desempenhado por nós.

Bibliografia:

CAIDEN, Gerald E.; VALDÉS, Daisy de Asper Y. A essência do profissionalismo no serviço público. Revista de Informação Legislativa, Brasília, DF, v. 35, n. 138, 1998. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/374. Acesso em: 23 jul. 2023.


*Os artigos aqui divulgados são enviados pelos redatores voluntários da plataforma. Assim, o Radar IBEGESP não se responsabiliza por nenhuma opinião pessoal aqui emitida, sendo o conteúdo de inteira responsabilidade dos autores da publicação.